segunda-feira, 5 de julho de 2010

Von deutscher Baukunst (1772)

"Não deixeis que uma concepção errônea fique entre nós, não permitais que a doutrina afeminada do moderno traficante de beleza vos torne delicados demais para desfrutar uma rudeza significativa, para que no fim vosso sentimento enfraquecido não seja capaz de suportar nada além da suavidade sem sentido. Tentam fazer-vos crer que as belas artes surgem da nossa suposta inclinação para embelezar o mundo à nossa volta. Isso não é verdade.

A arte é formativa muito antes de ser bela, e no entanto ela é então arte verdadeira e grandiosa, muitas vezes mais verdadeira e mais grandiosa que a própria arte bela. Pois o homem tem em si uma natureza formativa, que se apresenta na atividade assim que a existência dele está segura; (...) De modo que o selvagem remodela com traços bizarros, formas grotescas e cores grosseiras, seus 'cocos', suas plumas e seu próprio corpo. E muito embora esse elenco de imagens seja composta das formas mais caprichosas, mas sem proporção de formato, suas partes se harmonizam, pois um único sentimento criou-as em um todo característico.

Ora, essa arte característica é a única verdadeira arte. Quando ela age sobre aquilo que a rodeia baseada em um sentimento interior, singular, original e independente, descuidando e até ignorando o que lhe é alheio, então, seja nascida da selvageria rude, seja da sensibilidade cultivada, ela é plena e viva."
Escrever sobre Goethe (1749 - 1832) é sempre um prazer, principalmente sobre esta sua primeira publicação, Von deutscher Baukunst (de 1772), quando foi inspirado em seu entusiasmo romântico juvenil pela catedral gótica de Estrasburgo (Straßburg). Johann Wolfgang von Goethe foi um dos primeiros influentes pensadores na Alemanha a apreciar a poderosa força do que chamava de "primitivo" - o Gótico - enquanto era costume na época confiar nos critérios estereotipados do Neoclassicismo. Ao identificar a arte com a natureza, Goethe declara que as Belas Artes devem simular e dar continuidade à força criativa cega da natureza; defendende também seu ponto de vista tipicamente romântico, de que a arte deve se concentrar nas características individuais do ser humano, ao invés das genéricas.

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